Passado
Jorge Santos
A voz cavernosa do Passado perseguia-o; todos os dias, a todas as horas. Estivesse acordado ou a dormir.
Sussurrava-lhe ao ouvido: "O Futuro não existe sem mim!".
E na imensidão das noites sombrias, ele tentava matá-lo. Ao Passado. A tiro, à faca e até ao esquecimento. Nada!
O Passado sabia esconder-se muito bem, era perito em ficar atrás, escudando-se em Desejos defeituosos, Ilusões histéricas ou Sonhos ensonados.
Ambos sabiam que teriam de ajustar contas. E, ao invés do que o Passado dizia, ele teria de o destruir, de o esmagar, para seguir o seu rumo. Até lá, não veria o Futuro. Não queria viver sempre num Presente condicional.