Peso
Jorge Santos
O homem tinha o olhar perdido no horizonte e o rosto vincado pelo tempo e má sorte. Chegou afogueado, talvez do cansaço; respirou com alívio ao descarregar no solo o saco de serapilheira que trazia às costas. Pousou-o mesmo em frente ao recepcionista da pensão.
- Parece pesado, senhor! É a sua bagagem?
- Não - respondeu o homem - é um amor impossível.
- Como? Amor impossível?!
- Sim.
- Mas...mas...vai-me desculpar..mas não há amores impossíveis. Os amores ou são ou não são. Não acha?
- Este existe. É meu. Está aqui, vê? E é pesado...
- Então, e que vai fazer com ele, senhor?
- Ainda não sei. Vai andando nas minhas costas. Até descobrir uma forma de desenvencilhar-me dele. Mas é cá um peso!