Revolução
Jorge Santos
E cumpriu-se o desejo de tantos: deu-se uma revolução!
Ou terá sido a revolução?
O sangue, a destruição, a desordem? Nada! E os mortos e feridos? Nenhum!
Há revoluções assim. Fascinantes! Os velhos marxistas e os novos nacionalistas, pasmados, vêem os exércitos partir para onde vieram, sem proferir palavra de ordem. Os que não são uma coisa ou outra, embrulhados no manto da ambiguidade, dormem. Nem deram conta da mudança. Quando despertarem, a revolução já foi.
O Aleixo cego, que vende a lotaria lá pelo bairro, ouve as explicações do Afonso surdo. Sim, este não ouviu, mas viu. Os revolucionários, acérrimos defensores do bem, chegaram de madrugada. Foram a todos os hospitais e destruíram a doença. Todo o tipo de doença. Acabou!
Agora, os doentes estão livres. Livres! A doença foi destruída! Ou desconstruída, é preciso cuidado com os pedaços que circulam, em agonia, por aí. Pelo que contam os revolucionários, há piquetes no seu encalço. E quando o sol voltar a brilhar, já não existirá resto de doença. Que possa contaminar as gentes
E o mundo olha extasiado para os resultados da revolução.
Os políticos escondem a inveja nas algibeiras do poder e esboçam sorrisos raquíticos.
Há lá revolução mais eficaz do que esta? É o que diz o povo.