Foi quando passei as pontas dos meus dedos trémulos ao longo das tuas costas nuas que recebi a ternura melancólica do fim de tarde de verão, ainda vivia eu num doloroso inverno. O sol ia-se escondendo, tímido e sonhador, atrás do horizonte. Então percebi: a lua era, afinal, um pedaço do nosso céu.
O homem tinha o olhar perdido no horizonte e o rosto vincado pelo tempo e má sorte. Chegou afogueado, talvez do cansaço; respirou com alívio ao descarregar no solo o saco de serapilheira que trazia às costas. Pousou-o mesmo em frente ao recepcionista da pensão. - Parece pesado, senhor! É a sua bagagem? - Não - respondeu o homem - é um amor impossível. - Como? Amor impossível?! - Sim. - Mas...mas...vai-me desculpar..mas não há amores impossíveis. Os amores ou (...)
Alguém imaginará que a Sombra alimenta um amor incondicional pelo Sol? Certamente que não. Amor? Sim amor, ou, vá lá, uma espécie de amor que poucos entendem. Mas será esse amor correspondido? Ora aí está o drama: não, não é. O Sol é um astro egoísta e , se pudesse, não dava qualquer oportunidade à aproximação da sua leal Sombra . Um destes dias, em que o verão e o inverno andaram em discussão acesa, quase chegando a agredirem-se, o Sol aproveitou a confusão e (...)
Falar de amor livre nos dias de hoje é, de facto, um pleonasmo; porém, há quem continue a combater e destruir esta liberdade através da violência doméstica. Mas isto são contas de outro rosário. O que importa, nestas linhas, é a reflexão sobre casamento, amor e liberdade na primeira metade do séc. XX em Portugal. Eça de Queirós e Ramalho Ortigão, nas "Farpas", escreviam sobre o tema: " Hoje, a mulher é educada exclusivamente para o amor - ou para o casamento, como (...)