Refugio-me no velho lampião que enche de luz mortiça o passeio da cidade; estou aqui dentro, no cerne, onde se dá a explosão que espalha a preciosa luminosidade, apesar de parca, ficando a noite com mais fulgor, com mais vida. Quando fugi das trevas, abomináveis trevas!, eu que amo a noite, que melhor lugar podia escolher do que o abrigo deste velho candeeiro de rua?
Alguém imaginará que a Sombra alimenta um amor incondicional pelo Sol? Certamente que não. Amor? Sim amor, ou, vá lá, uma espécie de amor que poucos entendem. Mas será esse amor correspondido? Ora aí está o drama: não, não é. O Sol é um astro egoísta e , se pudesse, não dava qualquer oportunidade à aproximação da sua leal Sombra . Um destes dias, em que o verão e o inverno andaram em discussão acesa, quase chegando a agredirem-se, o Sol aproveitou a confusão e (...)